Não há título que honre

Davi Monticelli
2 min readFeb 18, 2023

--

Photo by Tadeas P on Unsplash

Existem momentos na vida em que começamos a entender o que é não ter mais nossos pais por perto. Entender o que é sua falta.

Para alguns vem através do ultimato, com a morte de um dos pais, ou até mesmo ambos, e destes sinto que passam pelo pior que a vida oferece.

Para outros podem ser momentos marcantes, como um divórcio, falecimento de um tio/tia queridos, e até mesmo dos avós dependendo do arranjo familiar.

Para mim, foi durante os períodos em que morei longe, em intercâmbio, ou quando mais velho.

Desde pequeno tenho terrores noturnos. Sonho, ou melhor, experimento a sensação de alguém entrando no quarto enquanto durmo. Pela porta, pelas paredes, pela janela... Vampiros, demônios, fantasmas, pessoas... tudo que minha mente sempre criativa consegue imaginar.

Quando tinha um episódio de terror noturno ainda criança (e até jovem), sempre, sempre podia contar com meus carinhosos, zelosos, e calorosos pais que vinham até minha cama, perguntar como eu estava.

"Pesadelo, filho?"
"Ei, está tudo bem, já passou."
"Eu fico aqui com você mais um pouco até dormir"

Tanto foi assim que meu cérebro aprendeu a esperar por eles toda vez que acontece. Eu acordo do terror noturno sentindo que a qualquer momento um deles, ou ambos, virá ao meu resgate.

Mas isso não acontece mais.

Quando morei com amigos no intercâmbio, as vezes recebia um "você está bem?", principalmente se dividia o quarto. Almas doces, eles tinham, e ainda assim, não era o mesmo. "Sim, pesadelos, desculpa".

Agora morando longe novamente, na casa de "estranhos", nem mesmo isso. Ninguém vem. Nenhum pai que sempre foi mais forte que qualquer demônio. Nenhuma mãe que sempre foi mais calorosa que o frio na espinha. Não. Há apenas eu e o silêncio. Eu e os resquícios do terror noturno noite a dentro. Meu cérebro então permanece em alerta até não aguentar mais. Como não fui resgatado, demora a entender que o terror noturno acabou. Que as paredes não vão derreter de repente. A cama não irá tremer. Ou que a assombração não vai voltar.

Mas com o tempo passa... E consigo voltar a dormir. O que não passa é a falta. Falta dos meus heróis, meus pais.

--

--

Davi Monticelli

Você vai encontrar muito mais sobre mim aqui do que digo por aí.